Visitei Varsóvia em maio, e contei um pouco em outra postagem, clique aqui para ler.
A cidade teve um importante episódio durante a Segunda Guerra Mundial. Lá aconteceu a Revolta do Gueto de Varsóvia, que foi a primeira insurreição contra a ocupação nazista na Europa.
Para falar sobre a revolta, precisamos voltar um pouco mais e falar sobre a criação do Gueto de Varsóvia.
Em muitas partes da cidade encontramos essas inscrições no chão. Simboliza onde ficava o muro do Gueto de Varsóvia |
O Gueto de Varsóvia
Por ordem de um general alemão, a população judia de Varsóvia foi isolada numa área que correspondia a 2,4% do território da cidade. Mas em 16 de outubro de 1940, os judeus somavam 380.000 pessoas, o que era cerca de 30% da população. Sem dúvida, era uma área muito pequena para tanta gente.
Os judeus eram representados pelo conselho judaico, Judenrat, liderado por Adam Czerniaków, este tentava negociar com as autoridades alemãs “benefícios” para os judeus, sempre sem sucesso.
Um mês após a criação do gueto, em 16 de novembro de 1940, os próprios judeus foram obrigados a construir um muro, isolando-os totalmente do restante da população.
Ninguém podia entrar no gueto sem ser judeu e nenhum judeu podia sair se não fosse para trabalhar em alguma empresa. Para comer, era entregue pelos alemães, as rações, que eram alimentos diversos, mas divididos da seguinte forma: 2400 calorias para alemães, 1800 calorias para polacos e 184 calorias para os judeus. Com essa quantidade super reduzida de comida, as doenças começaram a surgir rapidamente.
Durante 1 ano e meio após a criação do gueto, judeus continuavam a chegar vindos de cidades e vilas menores próximas a Varsóvia. Até que, em 22 de julho de 1942, teve inicio os transportes dos judeus para os campos de extermínio. No início, os judeus não sabiam o que iria acontecer, e eles achavam que apenas seriam transferidos para uma outra cidade, num outro gueto, onde estariam precisando de mão de obra para o trabalho escravo.
O líder do conselho judeu não conseguiu fazer nada para evitar os transportes e ainda ficou responsável por escolher os nomes dos seus amigos que seriam mandados para os campos. Não aguentando tudo isso, Adam Czerniaków se suicidou em 23 de julho de 1942.
Cerca de 300.000 judeus foram levados para o campo de extermínio de Treblinka, que fica próximo a Varsóvia, e morreram nas câmaras de gás. Os primeiros a serem levados eram idosos, crianças e doentes, os que podiam trabalhar iam ficando. Os judeus foram reduzidos a cerca de 60.000, os que não foram para o campo de extermínio, morreram de fome ou doentes.
Após o início dos transportes, alguns judeus começaram a se organizar e se preparar para lutar contra os alemães. Algumas pessoas que saiam do gueto para trabalhar, conseguiam através da resistência polaca, armamentos e materiais para poderem lutar.
O primeiro conflito da resistência judia ocorreu em 18 de janeiro de 1943, quando vários batalhões da SS marcharam para o gueto com o objetivo de capturar e matar ainda mais judeus. Eles foram atacados de surpresa, o que os obrigou a recuar. Esse ataque teve como sucesso a suspensão dos transportes, e a resistência tomou o controle do gueto e lutou até contra a polícia judaica, que eram composta por judeus que colaboravam com os nazistas.
O líder da SS (Tropa de proteção nazista) Heinrich Himmler, ordenou ao general Jürgen Stroop que extinguisse o Gueto de Varsóvia até meados de fevereiro, então começaram vários ataques, mas em nenhum deles os alemães obtiveram sucesso.
A resistência não era capaz de libertar o gueto ou destruir os nazistas em Varsóvia, eles apenas lutavam por uma morte digna, preferiam morrer lutando do que numa câmara de gás.
O grande confronto aconteceu na noite da páscoa judaica, dia 19 de abril de 1943. Nesse dia, um domingo, lutaram 3.000 alemães contra 1.500 judeus moradores do gueto. Os moradores atacaram atirando granadas nos alemães, mas nessa altura, o exercito alemão já estava mais preparado para atacar o gueto e responderam destruindo as casas bloco por bloco e matando todos os judeus que conseguiam capturar.
Em 08 de maio, os rebeldes foram cercados, alguns se suicidaram (inclusive o principal líder da resistência), outros foram capturados e mortos pelos alemães, e alguns conseguiram fugir pelos canais de esgoto e sobreviveram.
Às 20 horas e 15 minutos do dia 16 de maio de 1943, considerou-se o fim do levante do gueto, com a destruição total da sinagoga.
Em 01 de agosto de 1944, aconteceu outra revolta ou Levante de Varsóvia, quando os poloneses lutaram durante 63 dias contra as tropas alemãs. Os poloneses sabiam que o exercito russo estava se aproximando de Varsóvia, e tentaram resistir pensando que os russos os salvariam. Mas aconteceu justamente o contrário, os poloneses se enfraqueceram com o confronto contra os alemães e quando os russos finalmente alcançaram Varsóvia, eles dominaram a cidade.
Contei toda essa história sobre Varsóvia, Gueto e Levante para mostrar meu passeio, que foi num museu que hoje expõe tudo sobre o Levante de Varsóvia. Ele possui muitos documentos, fotos, objetos e informações sobre esse importante episódio da historia.
O Museu da Insurreição em Varsóvia
O Museu da Insurreição de Varsóvia, ou Warsaw Rising Museum em inglês, ou Muzeum Powstania Warszawskiego em polonês, é totalmente interativo e possui áudio-guia em português, o que facilita muito a visita.
A entrada para o museu custa 18 zloty e o áudio-guia 10 zloty. Não é caro e é muito interessante, além de ser bem interativo. Para saber mais informações, clique aqui e acesse o site oficial do museu.
Vale muito a pena visitar!!
Prédio do museu |
Aqui passam filmes sobre como era a vida dentro do Gueto |
Placa original de uma das ruas do gueto |
Um dos aviões utilizados na Segunda Guerra Mundial |
A história dele virou livro e filme, com o título O Pianista
Uma pequena homenagem ao pianista Władysław Szpilman, judeu polonês que morou no gueto de Varsóvia e sobreviveu graças a ajuda de um oficial alemão. |
Representando as malas que os judeus levavam durante os transportes, sem imaginar que estavam indo direto em direção a morte |
Café dentro do museu, muito lindo com móveis da época da guerra |
Tour pelo Gueto de Varsóvia
Fiz também um breve tour de carro por onde ficava o Gueto de Varsóvia, estava chovendo, portanto, as fotos não ficaram boas e muitos lugares não conseguimos ver de perto. Mas mesmo através da janela do carro, meus pensamentos voam.
Esse Monumento fica onde passava o trem com os transportes para os campos de concentração |
A representação das árvores caídas, significa na tradição judaica mortes repentinas, trágicas |
Essa pedra fica no local onde existia um abrigo anti-aéreo e 100 membros da resistência se suicidaram para não serem capturados pelos alemães |
Fiz também um breve tour de carro por onde ficava o Gueto de Varsóvia, estava chovendo, portanto, as fotos não ficaram boas e muitos lugares não conseguimos ver de perto. Mas mesmo através da janela do carro, meus pensamentos voam.
Fonte: adorocinema |
Fonte: adorocinema |
12 Comments
Anônimo
17 de dezembro de 2015 at 09:07Olá! Gostei sim do seu post, bem abrangente e gostoso de ler. Esse sinal na calçada indicando por onde passava o muro do gueto, vc fotografou em que local, lembra-se? Obrigado! (Marcelo)
A Li na Alemanha
17 de dezembro de 2015 at 09:12Oi Marcelo, obrigada pelo comentário!!
Exatamente o local não me lembro, pois foi saindo de um restaurante.
Mas sei que em vários pontos da cidade você encontra essa marca na calçada indicando onde passava o muro do gueto. 🙂
Anônimo
17 de dezembro de 2015 at 11:58Oi Li, obrigado pela resposta. Estarei em Varsóvia no final de janeiro/2015. Espero que a neve não me impeça de fazer os passeios que vc sugeriu no post. Tchau! (Marcelo)
A Li na Alemanha
17 de dezembro de 2015 at 11:59Marcelo, nao deixe de visitar o Museu!! Boa viagem!! 🙂
Anônimo
11 de fevereiro de 2016 at 19:31Oi Li. Voltei aqui para dizer que minha viagem foi muito legal! Aproveitei suas ótimas dicas, e estive sim no Museu. Aliás, pode acreditar, gostei mais de ter ido neste Museu de Varsóvia do que em Auschwitz. Abraços! E obrigado. (Marcelo)
A Li na Alemanha
11 de fevereiro de 2016 at 19:38Marcelo, que bom receber esse comentário!! Adorei saber que seguiu minhas dicas e que gostou!! Eu tb gostei muito desse museu, mas Auschwitz ainda está na minha lista 🙂
Você conseguiu ver a marca do antigo muro na calcada?
Obrigada por voltar aqui pra me contar!! Fiquei muito feliz!!
Anônimo
13 de fevereiro de 2016 at 19:59Oi Li! Consegui ver e fotografar a marca do antigo muro. Cheguei com neve, mas os passeis não foram prejudicados, ao contrário. De Varsóvia, fui de trem rápido para Cracóvia, que é uma linda cidade. Reservei ônibus para Oswiecim, cidade onde se localiza o antigo campo de concentração de Auschwitz. Cheguei no Museu as 9h30 e retornei 15h30 (horário de saída do ônibus). Infelizmente, não consegui completar a visita. Auschwitz II (Birkenau) é muito grande, e um tempo maior é preciso para quem quer ver detalhes. Mas, para ser sincero, eu não voltaria para completar a visita. Porém, isso é muito subjetivo. É isso! Mais uma vez, obrigado pelas dicas! Até a próxima! (Marcelo)
A Li na Alemanha
13 de fevereiro de 2016 at 20:01Nossa que legal que conseguiu ver e tirar a foto!! Sobre Auschwitz, nao sei tb se conseguiria ver nos mínimos detalhes tudo, mas como me interesso muito pelo assunto, considero um lugar que preciso ir, pelo menos 1x!! 🙂
Muito obrigada por esse retorno Marcelo!!
Até a próxima!!
Bjooo
Gerson Vainer
15 de agosto de 2017 at 11:07Oi Aline! Obrigado pela história do Levante. Foi muito esclarecedora. Espero conhecer Varsóvia em Janeiro. Espero que a neve não esteja muito forte. Conheci Auschwitz há uns 10 anos! Claro que vale a pena!!! Não é exatamente um roteiro de diversão, mas de amadurecimento da alma. Obrigado!
Aline Dota Naganawa
15 de agosto de 2017 at 12:42Obrigada pela visita Gerson!
É exatamente isso, não é lugar de diversão mas é de uma reflexão profunda, que com certeza, como você disse, amadurece a alma.
Espero que goste de Varsóvia, e visite o museu, é muito interessante!!
Dani
3 de fevereiro de 2019 at 13:55Olá! Gostaria de agradecer pela iniciativa desse simpático texto, e fazer uma observação. O Levante no Gueto Judeu de Varsóvia e a Insurreição Polonesa são dois eventos distintos na história da ocupação nazista da Polônia. Vocês devem ter reparado que praticamente não há alusão aos judeus ou à deplorável sina judaica no Museum Powstania. Eu sugeriria consultar um historiador, ou se não houver alguém ao alcance, dar uma lida no “quebra galho” Wikipedia. No mais, parabéns pela contribuição! 🙂
Aline Dota Naganawa
4 de fevereiro de 2019 at 14:35Olá Dani, obrigada pelo seu comentário.
Normalmente, escrevemos coisas baseados no que escutamos/lemos nos museus e também que, eventualmente, são faladas por guias de turismo. No caso do post especificamente, fizemos um tour privado e utilizamos o áudio-guia em português no museu. Preciso discordar de você em relação ao museu, quando o visitamos, em 2015, ele trazia diversas histórias sobre os judeus que sofreram no gueto de Varsóvia (pode constatar por algumas fotos). O nosso post apenas se refere ao Levante de Varsóvia, que por vezes também é chamado de Insurreição. 😉