Era dezembro de 2012, inverno, um frio que eu nunca tinha sentido na vida. Há exatamente 6 anos, lá estávamos nós, Arthur, Amélie e eu, desembarcando no aeroporto de Düsseldorf, na Alemanha. Era a minha primeira vez na Europa, era a primeira vez que ia morar longe da minha família. E que loucura! Loucura empacotar todas as nossas coisas para viver numa cidade que nunca tínhamos visto antes, mas ela não era Düsseldorf, a cidade escolhida era Aachen.
Na verdade, Aachen nos escolheu e nos acolheu. Em Aachen tive ainda muitas primeiras vezes, como a primeira vez brincando na neve, a primeira vez na aula de alemão, a primeira vez numa loja tentando falar em alemão, a primeira prova de alemão, a primeira crise de choro e vontade de voltar para casa, no Brasil, a primeira depressão. Mas teve também a primeira primavera e o primeiro outono, o primeiro dia no ballet, o primeiro espetáculo na Alemanha. O primeiro aniversário da Amélie aconteceu também em Aachen. O primeiro aniversário de casamento. O meu primeiro aniversário sem ver meus pais, o primeiro aniversário da minha filha sem poder abraça-la, o primeiro ano longe da família.
Todos esses sentimentos ainda estão tão vivos e presentes em mim que nem parece que já se passaram 6 anos. Foi e ainda é uma luta constante e Aachen sempre esteve do meu lado, me mostrando tantas coisas lindas. Muitos dizem que Aachen é uma cidade pequena, e é mesmo, que não tem muitas coisas para fazer. Mas eu aprendi a gostar de Aachen como ela é. Uma cidade que cria vida no verão, com seu cinema apenas com filmes dublados em alemão, com as deliciosas festas que acontecem na primavera, com suas ruas estreitas, medievais e muito charmosas, com o lindo mercado de Natal. Ah o mercado de Natal! Tão lindo e que me traz tantas lembranças. Olha aí mais uma primeira vez, a primeira vez que provei Glühwein, um vinho quente que é servido aqui, na época de Natal. Ainda me lembro do cheiro de canela no ar, durante aquele primeiro Natal.
O tempo passou rápido demais! Ainda lembro da sensação boa que foi sentir o sol batendo no meu rosto, numa tarde no parque durante a primeira primavera. Da euforia em passear com a Amélie descobrindo as ruas, casas, prédios, cada cantinho do bairro que morávamos. Me lembro da cereja colhida na rua, a mais doce que já comi.
Em Aachen tive a experiência de conhecer as estações do ano. Claro que eu já conhecia a estações, mas consegui realmente observar as diferenças entre elas, também aprendi a aproveitar o que cada uma tem de melhor. Aprendi que aspargos verdes se come na primavera, morangos suculentos encontramos aos montes no mês de maio. No outono vemos o laranja das folhas, mas também das abóboras. Tangerinas no supermercado, é porque o inverno está chegando novamente.
Como posso não amar Aachen? Foi aqui que aprendi a lidar com a saudade, foi aqui que enfrentei meus maiores desafios, foi aqui que descobri minha nova profissão e que me faz tão feliz. Tantas vezes, saindo da aula de alemão, fui passear pelas lojas para me distrair, fiz uma oração na linda catedral e acendi velas para agradecer, fiquei contemplando a beleza das suas construções medievais, e tudo isso para não deixar a saudade tomar conta de mim. Tantas vezes caminhei chorando pelas ruas, e Aachen enxugando minhas lágrimas, me ensinava a ter paciência, a seguir em frente e a lutar pelos meus sonhos. E consegui, conseguimos!
No dia que nos mudamos de um apartamento para uma casa foi fantástico, um sonho realizado. Aproveitei muito os momentos na casa, no meu jardim, com as mãos sujas de terra. Passamos tardes e tardes cuidando das plantas, sentindo o cheiro bom de grama recém cortada, “lagartixando” no sol. Colhi uvas, framboesas, couve-manteiga, alface, tomates. Fiz deliciosos e aromáticos chás de hortelã fresca, colhidas na hora, direto da minha horta. Fizemos festas, churrascos, recebemos amigos, vivemos felizes.
Senti uma imensa felicidade quando Aachen acolheu também minha família que veio nos visitar. Os primeiros foram minha irmã e meu cunhado. Mais tarde meus pais, que puderam conhecer 2 lados de Aachen, a frieza acinzentada do inverno e o alegre colorido da primavera. Acolheu também minha filha, que passou 1 ano na cidade, aprendendo alemão e crescendo, com tantos ensinamentos.
Após tantas experiências, me sinto em casa em Aachen. Quando estou fora, sinto saudades. Quero voltar logo para minha casa, mas não a minha casa no Brasil. Quero voltar para onde me sinto em casa agora, para Aachen.
Agora, exatamente 6 anos e 5 dias, de quando vi Aachen pela primeira vez, vou me mudar. Novamente uma onda de sentimentos toma conta do meu peito. Não verei mais Aachen todos os dias.
Fomos nós que buscamos essa mudança, lutamos e desejamos muito morar nessa nova cidade. Tudo foi muito bem pensado, planejado. E encaramos, pois, será um enorme crescimento profissional tanto para mim, quanto para o Arthur.
Pensando dessa forma, tenho a certeza de que Aachen está novamente me apoiando e falando: vá, conquiste seus sonhos, estarei sempre aqui te esperando para uma visita, para um café e um Printen. E ela estará e voltarei, sempre!
Em Aachen, além de ótimos sentimentos, ficam amigos queridos, que quero levar para o resto da minha vida. Portanto, nos aguardem e preparem os colchões, voltaremos.
No meio do caos da mudança, hoje, minha ansiedade pela vida nova é maior que a tristeza por deixar Aachen. E acho que é assim que tem que ser. Mas nunca esquecerei de tudo que passei aqui, tudo que aprendi e tudo que cresci. E como cresci! Não sou mais a pessoa que chegou em Aachen há 6 anos. Aachen me transformou em alguém que nunca imaginei ser, alguém muito melhor do que eu era. Por isso, Aachen estará sempre em meu coração!
É apenas um ciclo que se encerra. E outro que recomeça.
Stuttgart, me aguarde! Estou chegando para aprender e crescer ainda mais com você!
4 Comments
ines
17 de dezembro de 2018 at 10:49tenha certeza que toda mudança gera crescimento, que Deus abençoe vocês nessa nova jornada, e seja sempre uma metamorfose ambulante, foi o que ensinamos sempre isso pra vocês, pois água parada apodrece.
Aline Dota Naganawa
29 de janeiro de 2019 at 16:21Obrigada mamis! Tenho a certeza de que tudo dará certo, pois tenho vocês ao meu lado. E muito obrigada por me criar sem raízes, livre, arriscando e sendo sempre essa metamorfose ambulante. 🙂
Fabíola
15 de junho de 2019 at 04:01Parabéns, lindo texto! 😉
Aline Dota Naganawa
23 de junho de 2019 at 02:16Obrigada!! ☺️